Um dentinho só. Um mínimo dentinho, naquela mínima boquinha
do bebê já é sinal para a primeira visita ao odontopediatra? Sim! Embora o
tamanho da criança seja pequeno, a saúde dela não tem nada de diminutivo: assim
que o primeiro dente despontar na boca do bebê, já é hora de marcar uma
consulta, ato que deve se repetir a cada seis meses – como para nós, adultos.
Isso porque, quando o assunto é boca, o melhor tratamento é a prevenção. E
desde o dente de leite que, quando tem uma cárie não tratada, por exemplo, pode
fazer o permanente crescer com deformação ou manchas. A seguir, respondemos
todas as suas dúvidas sobre a primeira dentição do seu filho, desde o
nascimento até o aparelho ortodôntico.
Quando nasce o primeiro dente?
Geralmente aos 6 meses, mas há casos de crianças que têm
dentes antes ou depois disso, sem prejuízo algum. O limite é 1 ano e meio. Se
isso não ocorrer, é preciso investigar. Ao todo, serão 20 dentes (dez em cima e
dez embaixo) que, dependendo do desenvolvimento hormonal, surgem até por volta
dos 3 anos. Eles começam a cair, no entanto, com 6 anos – se nasceram antes,
aumenta a chance de caírem antes também. E o melhor é que o dente caia sozinho
ou que a própria criança remova, na sua companhia, claro.
E se a criança já nascer com um dente?
Esse “fenômeno” é chamado de dente natal e acontece em um a
cada 2 mil nascimentos. Também há o dente neonatal, que pode surgir no primeiro
mês. Somente com uma radiografia é possível saber se ele faz parte dos 20 ou se
é um extra. Se for extra, é indicada a remoção no consultório, sem dor. Se não,
poderá ser mantido, desde que tenha características normais.
Baba, coceira, febre e diarreia são sintomas de nascimento
dos dentes?
Não há comprovação científica de que o nascimento dos dentes
cause febre, diarreia ou faça o bebê babar. Acontece, mas as razões são outras.
Aos 6 meses e na fase oral, a criança leva tudo à boca. Enquanto isso, as
glândulas salivares começam a maturar (provocando uma salivação maior) e a
imunidade ainda é baixa. Resultado: o bebê se autocontamina e esses sintomas
aparecem. Já a coceira na gengiva, causada pelo dente que se aproxima, pode ser
amenizada com mordedores, especialmente os que vão na geladeira, porque a
temperatura baixa diminui a circulação sanguínea na região. O especialista
pode, ainda, prescrever medicações tópicas e fitoterápicas.
Quando iniciar a higiene bucal?
Assim que o primeiro dente apontar na boca, após cada
alimentação (antes disso, não precisa limpar a gengiva porque ela não serve de
fixação para as bactérias). Enquanto o bebê tiver apenas os dentes incisivos
(superiores e inferiores da frente), a mãe deve passar, no local, fralda de
algodão ou gaze seca ou umedecida em água filtrada ou, ainda, uma dedeira.
Quando nascerem os primeiros molares (os do “fundão”), por volta dos 14 meses,
é obrigatória a introdução da escova de acordo com a indicação da idade na
embalagem, pois esses dentes têm sulcos, que não são devidamente limpos de outra
forma. O uso do creme dental também deve ter início nessa fase e o especialista
deve orientar se o produto pode conter flúor ou não. Segundo a Sociedade
Brasileira de Odontopediatria, não há controvérsias sobre o uso dessa
substância antes dos 3 anos, já que ela é um fator fundamental para a prevenção
da cárie. Mas deve-se conversar sobre a frequência e a quantidade adequadas. O
indicado é o equivalente ao tamanho de um grão de arroz e, depois que seu filho
tiver três anos, de uma ervilha. Não há comprovação científica que o fio dental
evite cárie e os enxaguantes bucais (sem álcool) são indicados apenas para
maiores de 6 anos e que já saibam cuspir sem engolir.
É fundamental escovar os dentes após mamar de madrugada?
Sim, para evitar a cárie de mamadeira ou de peito, que se
forma, geralmente, entre os dentes da frente. Basta passar gaze ou fralda
umedecida sobre os dentes e retirar o excesso de leite da boca.
A partir de quando a criança poderá fazer a limpeza sozinha?
Entre 5 e 7 anos, a escovação deve ocorrer em conjunto com
os pais. Dos 7 aos 12, os pais fazem apenas a última limpeza, antes de dormir.
Isso porque, durante o sono, a produção de saliva reduz e é justamente ela que
promove a autolimpeza na boca.
E se ela morder a escova?
Pode deixar morder, de maneira comedida, explicando que não
foi feito para brincar. Mas tenha duas: uma para o seu filho e outra para você
fazer a escovação. Troque esta última uma vez por mês, ou quando as cerdas não
estiverem mais paralelas.
Quais os problemas recorrentes na infância?
A cárie e a erosão. A primeira é causada por microrganismos
que vivem na boca e agem pontualmente. Eles metabolizam o alimento, produzindo
um ácido que causa lesões. A única maneira de evitá-los é escovando os dentes
com o creme dental com flúor (ajuda, também, se o dentista aplicar o selante,
uma espécie de capa protetora que cobre as fissuras que abrigam a cárie). A
erosão, por sua vez, atinge toda a superfície dentária e é provocada pela
ingestão excessiva de alimentos industrializados, como refrigerantes, sucos
prontos e biscoitos. Por serem mais ácidos, “corroem” as camadas superficiais
de esmalte, desgastando a estrutura e até reduzindo o tamanho do dente.
Mamadeira, chupeta ou chupar o dedo prejudica?
A pressão resultante dos hábitos de sucção pode modificar a
posição dos dentes e gerar má-oclusão. As mais comuns são a mordida aberta,
quando os dentes de cima não encostam nos de baixo, e a cruzada. Para evitar o
problema, prefira mamadeiras e chupetas com bicos ortodônticos, e o ideal é que
o hábito termine até 3 anos. No caso do dedo, é muito importante nem deixar
começar. Uma vez interrompido o mau hábito, é comum a mordida aberta anterior
se autocorrigir. No entanto, a cruzada precisa de intervenção ortodôntica, que
deve ser realizada o mais cedo possível.
Pode colocar aparelhos ortodônticos em dentes de leite?
Sim. Alguns problemas podem ser reduzidos ou até
definitivamente corrigidos se a intervenção for feita durante a fase da
dentição de leite ou mista – quando a criança já conta com alguns permanentes,
o que acontece por volta dos 6 anos. Esses tratamentos podem atenuar problemas
no crescimento da face ou de espaço nos arcos dentários.
E se o dente quebrar?
Primeiro, é preciso identificar onde está o fragmento, pois
a criança pode engasgar. Há casos em que é preciso fazer um tratamento de
canal, para não comprometer a saúde e a aparência do dente que virá. Ou pode,
ainda, ocorrer a perda total, quando torna-se fundamental manter o espaço
aberto, com um aparelho específico ou implante. Caso contrário, ele pode fechar
ou o permanente erupcionar antes da hora. Se a quebra acontecer com um
permanente, será necessário implante imediato. Se achar o pedaço perdido,
coloque-o em uma solução proteica (leite ou soro fisiológico), para que o
especialista possa reimplantá-lo.
Fontes: Flavia Artese, presidente da Sociedade Brasileira de
Ortodontia e professora adjunta de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (Uerj); Marcelo Bönecker, professor titular de Odontopediatria da
Universidade de São Paulo (USP); Paulo Cesar Rédua, presidente da Sociedade
Brasileira de Odontopediatria; Ricardo Machado Cruz, presidente da Associação
Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial; Viviane Branco Cabral,
odontopediatra e ortodontista.